Como ajudar meu filho pequeno a expressar a raiva de maneira mais saudável?

Aprenda a ajudar seu filho a expressar a raiva de forma saudável e a desenvolver o autocontrole.

A especialista em parentalidade, Emily Edlynn, explica como podemos ajudar as crianças pequenas a lidar com suas explosões emocionais.

Quando minha filha de 3 anos fica irritada, ela me encara com os olhos semicerrados, range os dentes e, às vezes, chega a rosnar. Fica evidente que está com raiva, e isso acontece com frequência quando algo não sai como ela quer ou quando recebe um “não”. Antes, ela costumava bater e chutar, mas conseguimos superar essa fase, permitindo que ela expressasse sua frustração de outra forma. Agora, me pergunto: qual é a melhor maneira de ajudá-la a demonstrar sua raiva de forma saudável?

Seu filho já demonstrou progresso

Para começar, é importante reformular essa questão. Seu filho já desenvolveu um nível significativo de autocontrole, o que é algo positivo. Seu esforço para ajudá-lo a lidar com a raiva tem surtido efeito. Para uma criança de 3 anos, expressar frustração através de caretas ou sons sem causar danos a si mesma ou aos outros já é um grande avanço.

Ao invés de se perguntar como acabar com esse comportamento, talvez a melhor pergunta seja: “Como posso continuar ajudando meu filho a expressar a raiva de maneira saudável?”. O que você fizer nesses momentos será essencial para o desenvolvimento das habilidades emocionais dele.

Por que ensinar a lidar com a raiva é tão desafiador?

A raiva é, muitas vezes, a emoção mais difícil de gerenciar, tanto para as crianças quanto para os adultos. Nossa forma de reagir à raiva dos nossos filhos pode estar ligada às experiências que tivemos na infância. Se crescemos em um ambiente onde os adultos demonstravam explosões de raiva frequentes, podemos nos sentir incomodados ao ver nossos filhos irritados. Da mesma forma, se fomos ensinados a reprimir esse sentimento, podemos ter dificuldade em permitir que as crianças expressem sua frustração.

Como a raiva nos causa desconforto, tendemos a ensinar nossos filhos a demonstrar todas as emoções, menos essa. No entanto, se encararmos a raiva como uma emoção natural, podemos ajudar as crianças a aceitá-la e expressá-la sem prejudicar a si mesmas ou aos outros.

A raiva e o cérebro infantil

Crianças pequenas sentem emoções intensamente, mas ainda não têm maturidade para controlá-las. No consultório, quando atendo crianças, sempre começo com conceitos básicos sobre emoções: ajudá-las a perceber como se sentem, nomear os sentimentos e, aos poucos, expressá-los de maneira mais clara, em vez de agir impulsivamente.

No entanto, a maioria das crianças pequenas não consegue verbalizar seus sentimentos de maneira calma quando estão bravas. Isso exige habilidades complexas, como:

  • Perceber que estão com raiva
  • Controlar a impulsividade
  • Ter consciência do que sentem
  • Expressar a emoção com palavras

(Por sinal, quantos adultos você conhece que ainda têm dificuldade com isso?)

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Ajustando as expectativas

Um conceito essencial do desenvolvimento infantil é o scaffolding (ou “andaime”). Isso significa oferecer suporte para que a criança aprenda novas habilidades, sempre respeitando seu nível de desenvolvimento.

Você já ajudou sua filha a substituir comportamentos agressivos por expressões faciais e sons. O próximo passo é ajudá-la a desenvolver formas mais socialmente adequadas de demonstrar a raiva.

Como esperar que uma criança de 3 anos verbalize calmamente seus sentimentos pode ser um desafio grande demais, sugiro focar em dois objetivos:

  1. Ajudá-la a regular fisicamente suas emoções – Ensinar estratégias para reduzir a intensidade da raiva ajudará a criança a desenvolver o autocontrole ao longo da vida.
  2. Ensinar que sentir raiva é normal – Os adultos próximos serão os maiores exemplos nesse aprendizado. Demonstrar como lidamos com nossas próprias emoções é essencial.

A importância da co-regulação

Autoregulação emocional é uma das habilidades mais valiosas para a saúde mental. Isso envolve aprender a acalmar o próprio corpo em momentos de estresse.

Quando as crianças pequenas se irritam, precisam da nossa ajuda para aprender a regular suas emoções, esse processo é chamado de co-regulação. Ou seja, quando ajudamos nossos filhos a se acalmarem, eles internalizam essa habilidade ao longo do tempo.

Por exemplo, quando meu filho está muito agitado, às vezes pego sua mão e coloco sobre seu peito, dizendo: “Sinta seu coração batendo agora”. Esse simples gesto o ajuda a perceber como seu corpo reage à emoção.

Se queremos que nossos filhos aprendam a se acalmar, precisamos ser um exemplo de calma para eles. Pequenos gestos, como um abraço ou segurar a mão da criança, ajudam seu sistema nervoso a se equilibrar e a reduzir a intensidade da emoção.

Dando um bom exemplo de como lidar com a raiva

Outro grande presente que podemos oferecer aos nossos filhos é ensinar que sentir raiva é normal. Para isso, precisamos demonstrar que estamos confortáveis em lidar com suas emoções, sem tentar minimizar ou ignorar o que sentem.

Evite cair em dois erros comuns:

  • Tentar fazer com que parem de sentir raiva rapidamente. Se dizemos “Não é nada demais, acalme-se!”, acabamos invalidando o sentimento deles. Em vez disso, podemos reconhecer: “Você está bravo porque não conseguiu o que queria, e isso é difícil mesmo”.
  • Se sentir sobrecarregado pela raiva deles. É normal querer que nossos filhos parem de chorar ou gritar, mas fugir dessas situações (ou reagir com irritação) não ensina a lidar com a emoção.

Assim como fazemos quando uma criança está triste – nos sentamos ao lado dela e oferecemos conforto, podemos fazer o mesmo quando está com raiva. Podemos dizer: “Eu vejo que você está muito bravo. Estou aqui para quando quiser um abraço”.

O que podemos aceitar e o que devemos corrigir?

Aceitamos todas as emoções, mas não todos os comportamentos. Enquanto uma criança está com raiva, nosso papel é garantir a segurança. Podemos dizer: “Está tudo bem sentir raiva, mas não podemos bater”.

Depois que a criança se acalma, podemos conversar sobre o que aconteceu: “O que te deixou tão bravo? Como você se sentiu? O que te ajudou a se acalmar?”. Isso ajuda a criança a desenvolver consciência emocional e estratégias para lidar melhor com a frustração no futuro.

Conclusão

Com paciência, prática e muito apoio, sua filha irá superar essa fase. O importante é aceitar que a raiva faz parte da experiência humana e ajudá-la a expressá-la de maneira adequada em cada etapa do seu desenvolvimento.

Ela tem muita sorte de ter um pai ou mãe tão dedicado a esse aprendizado! E não se preocupe, todos nós ficamos frustrados às vezes com a raiva dos nossos filhos. Afinal, somos humanos, assim como eles. O mais importante é que ela sempre saberá que você estará lá para ajudá-la, mesmo quando ela rosnar.

Com conteúdo de parents.com

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